Moçambique é um país pitoresco no sudeste da África e sua capital, Maputo, é o centro comercial e cultural. O país é rico em recursos naturais, biologicamente e culturalmente diversificado, possui clima tropical e suas belas praias são um importante atrativo para sua crescente indústria do turismo.
A sua extensa costa oferece alguns dos melhores portos naturais de África, o que permitiu a Moçambique desempenhar um papel importante na economia marítima. Além disso, o rio Zambeze e a rede hidroeléctrica do país, incluindo a barragem de Cahora Basa e a barragem de Kariba, fornecem água suficiente para irrigação e a base para a energia hidroeléctrica.
Oportunidades não faltam
A maior oportunidade de Moçambique reside na exploração dos diversos recursos do país, afirma Thera Dai, advogada da CGA & Associados em Maputo e membro da aliança jurídica LEX Africa.
“Esse fato estimula o surgimento de novos segmentos de mercado ainda não explorados no mercado local. Há grandes possibilidades de sucesso empresarial em transporte e logística, energia, tecnologias da informação e comunicação (TIC), mercado de capitais, agronegócio, bancos, seguros e têxtil”, afirma.
Com a exploração desses recursos, o país pode dar um salto qualitativo e quantitativo rumo ao desenvolvimento, diz Dai. “Obviamente, atrelado a este fator, está a correta gestão dos recursos, o que implica necessariamente uma luta feroz contra a corrupção, que se tem revelado um dos maiores fatores de entrave ao desenvolvimento dos países africanos.”
Grandes desafios
Os principais desafios de Moçambique incluem a manutenção da estabilidade macroeconómica, considerando a exposição às flutuações dos preços das matérias-primas e envidar esforços adicionais para restabelecer a confiança através de uma melhor governação económica e maior transparência, diz Dai. Além disso, são necessárias reformas estruturais para apoiar o setor privado em dificuldades.
“Isso, e diversificar a economia longe de seu foco em projetos de capital intensivo e agricultura de subsistência de baixa produtividade, ao mesmo tempo em que fortalece os principais impulsionadores da inclusão, como a melhoria da qualidade da educação e da prestação de serviços de saúde, pode melhorar os indicadores sociais”, disse. ela diz.
“Outro dos maiores desafios do país é travar a escalada do conflito no norte de Moçambique, concretamente em Cabo Delgado. Isso fez com que as operações de exploração de petróleo e gás parassem.”
Ela diz que, em termos de política monetária, o banco central está fazendo um esforço para conter a taxa de inflação, que é influenciada por fatores como pressão sobre os preços dos combustíveis e redução na oferta de cereais e fertilizantes. “Para isso, foram tomadas medidas para melhorar a produção interna de forma a minimizar a dependência externa.”
Perspectivas econômicas
A economia moçambicana atravessa uma recessão económica, em primeiro lugar devido ao fraco investimento público devido à retirada de cerca de metade do apoio ao orçamento do Estado. Isso e a descoberta de dívidas não declaradas pressionaram o mercado interno, diz Dai.
Por um lado o Estado está a utilizar todos os mecanismos possíveis para aumentar as receitas internas para fazer face à despesa pública, deixando de lado o investimento público, que é uma grande fonte de motivação e dinamização da economia moçambicana.
Por outro lado, o Estado, que é o maior cliente das empresas moçambicanas, deixou de pagar as facturas dos seus fornecedores, com atrasos até três anos em alguns sectores.
Para piorar, a pandemia da COVID-19 deixou grande parte do setor empresarial moçambicano em grandes dificuldades, diz Dai. “Isso, por sua vez, impactou as famílias que viram sua renda diminuir em 75%, reduzindo assim a capacidade de compra da população.”
Ela diz que Moçambique é um grande exportador de eletricidade, “e os países da região enfrentam desafios energéticos, pelo que a construção de novas barragens é claramente uma opção de crescimento económico”.
O Ministério de Recursos Minerais e Energia (MIREME), através do Escritório de Implementação do Projeto Hidrelétrico de Mphanda Nkuwa, está desenvolvendo um projeto hidrelétrico de 1.500 megawatts e instalações de transmissão associadas, diz Dai.
Uma vez concluído, espera-se que o projeto forneça energia para atender à crescente demanda doméstica em Moçambique e transformar o país em um polo energético regional.
“O restante da produção do projeto deverá ser exportado para países vizinhos, incluindo a África do Sul, onde a demanda por energia limpa é alta. O projeto também acelerará a transição para energia limpa para combater as mudanças climáticas na África Austral”, diz Dai.
O projeto estimado de US$$4,5 bilhões incluirá uma barragem, uma usina e uma infraestrutura de transmissão de alta tensão de 1.300 km do local do projeto na Província de Tete até Maputo, capital de Moçambique.
Moçambique é também um importante pólo logístico para o escoamento de mercadorias dos países do interior.
Nova legislação significativa
Moçambique introduziu várias novas leis até à data em 2022. Estas incluem três importantes leis aprovadas em 25 de maio que entrarão em vigor em 22 de setembro de 2022, diz Dai, a saber:
- um novo Código Comercial que revoga o atual;
- um Regime Jurídico dos Títulos de Crédito (atualmente incorporado no Código Comercial existente); e
- um Regime Jurídico dos Contratos Comerciais (também atualmente incorporado no Código Comercial existente).
O novo Código Comercial trará muitas mudanças com o objetivo de melhorar o ambiente de negócios, afirma Dai.
Entre elas, a possibilidade e o reconhecimento de reuniões virtuais dos órgãos sociais das empresas e o fortalecimento da governança corporativa das empresas. Exemplos deste último são:
- criar/reforçar a proteção dos acionistas minoritários,
- maior responsabilidade da administração e dos diretores,
- maior transparência da titularidade real – eliminação de ações ao portador e outros valores mobiliários e identificação obrigatória do acionista controlador efetivo,
- a introdução de novos tipos de empresas,
- eliminação de escrituras públicas,
- introdução de alguns conceitos do Anglo/Common Law e outros.
O Regime Jurídico dos Contratos Comerciais, aprovado pelo Decreto-Lei n. 2/2022 é uma grande mudança. Ele compila todas as regras de interpretação, prevê muitos contratos comerciais anteriormente não contemplados e incorpora muitos princípios do UNIDROIT e os princípios da HCHH sobre o Direito Internacional Privado.
A Lei Moçambicana da Electricidade, aprovado pela Lei n. 12/2022 de 11 de julho de 2022, revogou a anterior Lei da Eletricidade n. 21/97 de 1997. A nova Lei de Eletricidade cria condições para a abertura do setor elétrico ao setor privado, através do regime jurídico das concessões.
“Este documento, da autoria do Governo, visa adequar o quadro legal aos desafios do acesso universal à energia utilizando todas as fontes energéticas, especialmente as renováveis. Além disso, a nova Lei de Eletricidade visa ajudar a promover a redução das emissões de gases de efeito estufa”, afirma Dai.
A Lei de Lavagem de Dinheiro e Combate ao Terrorismo, aprovado pela Lei n.º 11/2022 de 07 de julho de 2022, estabelece o regime jurídico e as medidas de prevenção e repressão na utilização do sistema financeiro e das entidades não financeiras, para efeitos de branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo e financiamento da proliferação de armas de destruição em massa.
A Lei aplicar-se-á às instituições financeiras e entidades não financeiras sediadas em território nacional, bem como às suas sucursais, agências, subsidiárias ou qualquer outra forma de representação, e a outras instituições susceptíveis de praticarem o branqueamento de capitais, o financiamento do terrorismo e o financiamento do proliferação de armas de destruição em massa como conduta criminosa.
Isso está de acordo com as Convenções e Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ajusta o conteúdo da legislação existente aos novos padrões normativos internacionais nessa área, afirma Dai.
“Uma das novidades é a obrigatoriedade de todas as organizações sem fins lucrativos apresentarem as suas contas ao Estado.
“O Governo quer que todas as organizações sem fins lucrativos, nomeadamente igrejas, fundações e organizações não governamentais, passem a prestar contas relativas a despesas e receitas, para um melhor controlo das suas atividades”, afirma.